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A doutrina da eleição

“Como labareda de fogo, tomando vingança dos que não conhecem a Deus e dos que não obedecem ao evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo” ( 2 Tessalonicenses 1: 8 )

Introdução

Devido à complexidade que envolve o tema ‘Doutrina da Eleição’, ao longo dos tempos, surgiram inúmeras teorias, na tentativa de explicar essa doutrina.

Nesse sentido, vale destacar que os escritores da Bíblia não utilizaram conceitos e definições, ao abordar o tema ‘eleição’, até porque, o material que produziram não possuía um viés pedagógico, conforme é próprio aos livros didáticos de nosso tempo.

Ao observar o Novo Testamento, verifica-se que o conteúdo dos evangelhos se aproxima da estrutura de um material histórico-bibliográfico, o que foge da estrutura utilizada pelos materiais didáticos que a nossa sociedade está acostumada.

A Bíblia não trabalha com enunciados, definições ou conceitos, quando aborda um determinado tema, o que torna árdua a tarefa do interprete.

Excetuando-se os quatro evangelhos, o Novo Testamento é composto por epístolas, portanto, o seu conteúdo traduz as relações estabelecidas entre emissor e destinatário, cuja estrutura é composta por saudações, lembranças, corpo da carta, despedida e assinatura.

Temas como salvação, eleição, predestinação, novo nascimento, pecado, etc., que estão sistematizados nos livros de teologia e possuem vários enunciados (conceitos e definições), quando tais doutrinas são analisadas nas epístolas, surpreendentemente, verifica-se que não há definições e nem conceitos prontos.

Há uma grande diferença entre uma epístola e um livro didático. A carta é plena em si, pois o conteúdo abordado é de conhecimento, tanto do emissor, quanto do destinatário, diferente do conteúdo de um livro didático, que é impessoal.

Em suas epístolas, os apóstolos Pedro e Paulo exortavam acerca daquilo que os cristãos já conheciam, portanto, não havia a necessidade de enunciados e definições.

 

Anunciando as mesmas coisas

“Por isso não deixarei de exortar-vos sempre acerca destas coisas, ainda que bem as saibais, e estejais confirmados na presente verdade” (1 Pedro 1: 12);

“Não me aborreço de escrever-vos as mesmas coisas, e é segurança para vós” (Filipenses 3: 1).

Para compreender o que a Bíblia diz acerca da ‘eleição’, é imprescindível ter em mente que os apóstolos sempre abordaram os mesmos temas em suas epístolas.

Outro ponto a destacar, acerca do que os apóstolos registraram em suas epístolas, é que nada disseram, além do que foi anunciado pelos profetas.

“Mas, alcançando socorro de Deus, ainda até ao dia de hoje permaneço dando testemunho tanto a pequenos como a grandes, não dizendo nada mais do que o que os profetas e Moisés disseram que devia acontecer,” (Atos 26: 22);

Nesse quesito, quando lemos o enunciado: “Ele é a Rocha, cuja obra é perfeita, porque todos os seus caminhos justos são; Deus é a verdade e não há nele injustiça; justo e reto é” (Deuteronômio 32:4), verifica-se que o profeta Moisés utilizou a asserção: “Ele é a Rocha…”, para demonstrar que Deus é digno de confiança, pois todos os seus intentos são justos e à perfeição, inerente às suas realizações.

Quando o profeta Moisés diz: “Deus é a verdade e não há nele injustiça”, isso significa que a ‘mentira’ ou, seja, o que não é conforme a ‘verdade’ é injustiça. Por exemplo: quando Deus ordenou: – “De toda a árvore do jardim comerás, livremente, mas, da árvore do conhecimento do bem e do mal, dela não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás” (Gênesis 2:16-17), permanecer obediente à ordem divina, era permanecer na verdade.

Já, o argumento mentiroso da serpente, era a injustiça: – “Certamente, não morrereis. Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se abrirão os vossos olhos e sereis como Deus, sabendo o bem e o mal” (Gênesis 3:4-5) e quando Adão rejeitou o mandamento de Deus, todos os homens foram feitos mentirosos, injustos, alienados de Deus. “Dizia na minha pressa: Todos os homens são mentirosos” (Salmos 116:11); “De maneira nenhuma; sempre seja Deus verdadeiro e todo o homem mentiroso; como está escrito: para que sejas justificado em tuas palavras, e venças quando fores julgado” (Romanos 3: 4; Salmos 58:3).

Seguindo a premissa de que nada foi dito além do que foi anunciado pelos profetas, a mesma abordagem do profeta Moisés foi apresentada por Cristo, quando disse: – ‘Deus é luz e não há nele trevas nenhuma’.

“E esta é a mensagem que dele ouvimos e vos anunciamos: que Deus é luz e não há nele trevas nenhuma” (1 João 1:5).

O crente em Cristo deve estar atento, visto que, dificilmente, um falso profeta dirá que Deus não é luz, entretanto, é próprio aos falsos profetas negarem que aquele que está em Deus é isento de trevas.

Ora, se em Deus não há trevas nenhuma, isso significa que, para o homem estar em Deus e Deus n’Ele, essencialmente, está isento de trevas.

Não há uma definição ou, um conceito acerca de Deus, porém, na Bíblia há proposições simples que, quando analisadas em conjunto, nos leva a uma ideia acerca de Deus e da condição dos seus filhos.

É importante frisar que o espírito (mensagem) do anticristo é evidente, pelo que propõe: negar a pessoa do Cristo.

“E todo o espírito que não confessa que Jesus Cristo veio em carne não é de Deus; mas este é o espírito do anticristo, do qual já ouvistes que há de vir, e eis que já está no mundo” (1 João 4:3).

Já o espírito (mensagem) dos falsos profetas é dissimulado, pois apresenta uma mensagem acerca de Deus, que traz em seu conteúdo heresias de perdição. São lobos devoradores em pele de ovelhas, pois negam a eficácia da obra de Cristo.

“Tendo aparência de piedade, mas, negando a eficácia dela. Destes afasta-te” (2 Timóteo 3:5).

Quando o evangelista João diz: “Qualquer que confessar que Jesus é o Filho de Deus, Deus está nele e ele em Deus” (1 João 4:15), isso porque aquele que confessa que Jesus é o Filho de Deus creu no amor que Deus concedeu e, portanto, está em amor.

“E nós conhecemos e cremos no amor que Deus nos tem. Deus é amor e quem está em amor, está em Deus e Deus nele” (1 João 4:16).

Ora, qualquer que guarda a palavra de Deus, ‘o amor de Deus nele, verdadeiramente, se aperfeiçoou’, de modo que Deus está nele e ele em Deus. “Mas, qualquer que guarda a sua palavra, o amor de Deus está nele, verdadeiramente, aperfeiçoado; nisto conhecemos que estamos nele” (1 João 2: 5); “Ninguém jamais viu a Deus; se nos amamos uns aos outros, Deus está em nós e em nós é perfeito o seu amor” (1 João 4:12).

Qual é a mensagem dos falsos profetas ou, dos falsos apóstolos? Negar que quem crê em Cristo está em amor, através de argumentos, como: – ‘Se você não faz obras de cunho social, você não está em amor’; – ‘Se você não faz penitências, você não está em Deus’; – ‘Se você não está engajado em nenhuma luta contra as injustiças socioeconômicas, você não está em amor’; – ‘Se você não possui as virtudes cardeais, você não está em Deus’, etc.

Negar a eficácia do evangelho é a estratégia do maligno, de modo, que sempre haverá nas mensagens dos falsos profetas um senão à salvação em Cristo. Para os falsos profetas, crer em Cristo não é o suficiente para se alcançar a salvação.

Embora seja imperativo ao cristão andar como filho da luz, isso não muda o fato de que agora é luz no Senhor, filhos da luz e do dia, portanto, estão em Deus, que é luz. “Porque todos vós sois filhos da luz e filhos do dia; nós não somos da noite nem das trevas” (1 Tessalonicenses 5: 5); “Porque noutro tempo éreis trevas, mas, agora, sois luz no SENHOR; andai como filhos da luz” (Efésios 5: 8).

Com a Doutrina da Eleição não é diferente, pois ela aponta para a real condição do crente em Cristo, mas, os falsos profetas a transtornam, pondo em dúvida a posição alcançada em Cristo.

 

Conhecendo a Deus

O apóstolo Paulo tinha o cuidado de, sempre, abordar os mesmos temas, ao escrever aos cristãos: “RESTA, irmãos meus, que vos regozijeis no Senhor. Não me aborreço de vos escrever as mesmas coisas e é segurança para vós” (Filipenses 3: 1).

A insistência do apóstolo Paulo em abordar as mesmas questões, em todas as suas cartas, além de ser segurança para o cristão, também, serve de parâmetro na análise dos pontos doutrinários, considerados de difícil interpretação, visto ser possível comparar as questões doutrinárias abordadas em suas cartas.

Ao escrever aos Tessalonicenses, o apóstolo Paulo disse:

“Como labareda de fogo, tomando vingança dos que não conhecem a Deus e dos que não obedecem ao evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo” (2 Tessalonicenses 1: 8).

O apóstolo enfatizou que os homens que ‘não conhecem a Deus’ serão castigados com eterna perdição (2 Tessalonicenses 1: 9). O que o apóstolo Paulo enfatizou ao utilizar o termo grego εἰδόσιν, traduzido por ‘conhecer’? O que é conhecer a Deus? Como conhecer a Deus?

Ao lermos que Deus toma vingança dos que ‘não conhecem a Deus’, em seguida, vem a informação: ‘dos que não obedecem ao evangelho’.

Nesse verso, a partícula primária καὶ traduzida por ‘e’, não introduz a ideia de que ‘conhecer a Deus’ é diferente de ‘obedecer ao evangelho’. A partícula καὶ nesta frase possui força cumulativa, demonstrando que ‘não conhecer a Deus’ é o mesmo que ‘não obedecer ao evangelho’, portanto, a perdição é o castigo que sofrerão os que ‘não obedecem ao evangelho de Cristo’, ou seja, os que ‘não conhecem a Deus’.

Qualquer que obedece ao evangelho de Cristo Jesus ‘conhece’ a Deus ou, seja, tornou-se um com Ele (João 17: 21), pois se fez membro do corpo de Cristo: “Porque somos membros do seu corpo, da sua carne e dos seus ossos” (Efésios 5: 30); “Ora, vós sois o corpo de Cristo e seus membros, em particular” (1 Coríntios 12: 27).

Conhecer, na Bíblia, dependendo do contexto, não se refere a ter ‘um saber específico acerca de’, antes, diz de união íntima, comunhão, semelhante à união que há no matrimônio entre o homem e a mulher, quando se tornam um só corpo.

Com base na análise do termo ‘conhecer’ empregado pelo apóstolo Paulo ao escrever aos cristãos de Tessalônica (2 Tessalonicenses 1: 8), temos elementos para iniciar a interpretação dos versos 28 e 29, de Romanos 8.

 

Deus conhece aqueles que O ama

“Porque, os que dantes conheceu, também, os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho…” (Romanos 8: 29)

Aprendemos que o homem ‘conhece’ a Deus, quando obedece ao evangelho de Cristo ou, seja, quando o homem crê que Jesus é o Filho de Deus, ‘conhece’ a Deus, pois se torna um com o Pai e o Filho.

E como é possível saber que se ‘conhece’ a Deus? Simples, quando se guarda o Seu mandamento:

“E nisto sabemos que o conhecemos: se guardarmos os seus mandamentos. Aquele que diz: Eu o conheço e não guarda os seus mandamentos, é mentiroso e nele não está a verdade” (1 João 2:3-4).

E qual é o mandamento de Deus? O mandamento de Deus está expresso no evangelho de Cristo, como se lê:

“E o seu mandamento é este: que creiamos no nome de seu Filho Jesus Cristo e nos amemos uns aos outros, segundo o seu mandamento” (1 João 3:23).

Em suma, o mandamento de Deus é crer em Cristo e aquele que cumpre o mandamento de Deus se faz um com Ele, portanto, ‘conheceu’ a Deus, conforme se lê:

“Como labareda de fogo, tomando vingança dos que não conhecem a Deus e dos que não obedecem ao evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo”. (2 Tessalonicenses 1: 8)

Só é possível ‘conhecer’ a Deus ou, antes, ser ‘conhecido’ d’Ele, quando o homem crê em Cristo, conforme diz as Escrituras. Qualquer que se socorre dos elementos da lei mosaica, não conhece a Deus, pois está debaixo de rudimentos fracos e pobres.

“Mas agora, conhecendo a Deus ou, antes, sendo conhecidos por Deus, como tornais outra vez a esses rudimentos fracos e pobres, aos quais de novo quereis servir?” (Gálatas 4:9).

Como os cristãos da Galácia conheceram a Deus ou, antes, foram conhecidos d’Ele? Obedecendo ao evangelho, o mandamento do Deus eterno (Gálatas 3:26). É imprescindível compreender que o evangelho é mandamento que demanda obediência, pois há um Senhor que ordena e os que obedecem que se fazem servos.

“Porque melhor lhes fora não conhecerem o caminho da justiça, do que, conhecendo-o, desviarem-se do santo mandamento que lhes fora dado;” (2 Pedro 2:21);

“Mas, a seu tempo, manifestou a sua palavra, pela pregação que me foi confiada, segundo o mandamento de Deus, nosso Salvador;” (Tito 1:3);

“Que guardes este mandamento sem mácula e repreensão, até a aparição de nosso Senhor Jesus Cristo;” (1 Timóteo 6:14);

“Ah! se tivesses dado ouvidos aos meus mandamentos, então, seria a tua paz como o rio e a tua justiça como as ondas do mar!” (Isaías 48:18);

“Mas que se manifestou agora e se notificou pelas Escrituras dos profetas, segundo o mandamento do Deus eterno, a todas as nações, para obediência da fé;” (Romanos 16:26).

Ora, tanto os judeus, quanto os gentios, são justificados por Deus, ao crerem em Cristo (Gálatas 2:16), pois, essa é a mensagem da pregação da fé (evangelho), a fé (verdade) que foi manifesta (Gálatas 3:2 e 23).

A promessa de vida eterna em Cristo Jesus só é alcançada pelos que creem (Gálatas 3:22), visto que, aos que não creem em Cristo, como o enviado de Deus, está reservada a vingança de Deus (2 Tessalonicenses 1: 8).

O apóstolo João aponta qual é o amor de Deus:

“Porque este é o amor de Deus: que guardemos os seus mandamentos; e os seus mandamentos não são pesados” (1 João 5:3).

Quando é dito que Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho Unigênito, isso significa que Deus estava estabelecendo um mandamento: para que todo aquele que n’Ele crê não pereça: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas, tenha a vida eterna” (João 3:16).

O amor de Deus não é um sentimento (subjetividade), mas, um mandamento (objetividade), pois, ao revelar o seu amor ao mundo, deu um mandamento: “E o seu mandamento é este: que creiamos no nome de seu Filho Jesus Cristo e nos amemos uns aos outros, segundo o seu mandamento” (1 João 3:23).

Aquele que crê que Jesus é o Filho de Deus, efetivamente, ama a Deus: “Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado de meu Pai e eu o amarei e me manifestarei a ele” (João 14:21).

Amar a Deus é o mesmo que obedecer, pois Jesus mesmo disse: “Se me amais, guardai os meus mandamentos” (João 14:15). E qual é o mandamento que se deve guardar para amar a Deus? O mandamento é crer em Cristo Jesus, portanto, só ama a Deus aquele que guarda o mandamento que há no evangelho.

Quando lemos o versículo: “E sabemos que todas as coisas contribuem, juntamente, para o bem daqueles que amam a Deus…” (Romanos  8: 28), temos que ter em mente que ‘aqueles que amam a Deus’ e que todas as coisas contribuem, juntamente, para o seu bem, são aqueles que ouviram o mandamento de Deus e creram em Cristo.

“Mas, a seu tempo, manifestou a sua palavra pela pregação que me foi confiada, segundo o mandamento de Deus, nosso Salvador (Tito 1:3; 2 Pedro 2:21 e 3:2).

Após compreender que amar a Deus é obedecer ao seu mandamento e que o mandamento de Deus é crer em Cristo Jesus, podemos dizer, com certeza, que só é sujeito dos verbos ‘conhecer’, ‘obedecer’ e ‘amar’ aqueles que creem em Cristo (obedecem ao mandamento de Deus).

“E sabemos que todas as coisas contribuem, juntamente, para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito” (Romanos 8:28).

Conclui-se que todas as coisas contribuem, juntamente, para o bem dos que creem em Cristo, pois, os que creem em Cristo, obedeceram a Deus ou, antes, amam a Deus, pois, se fizeram um (conhecem) com Ele.

 

Predestinou os que dantes conheceu

“Porque os que dantes conheceu também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos” (Romanos 8: 29).

Considerando que, aquele que ama a Deus, cumpre os seus mandamentos e que aqueles que guardam o mandamento de Deus conhecem a Deus (ou antes, são conhecidos d’Ele), segue-se que, aqueles que Deus predestinou, desde a eternidade, para serem conformes á imagem de Cristo, diz, especificamente, daqueles que creram em Cristo (João 6:29; 1 João 3:23).

O objetivo da predestinação é conceder ao homem, crente em Cristo, a imagem de Cristo, pois, assim como trouxemos a imagem do homem terreno, Adão, assim, também, traremos a imagem do último Adão, Cristo, pelo fato de termos sido gerados de novo (1 Coríntios 5:49).

A predestinação tem em vista a imagem dos filhos de Deus, pois, foi preordenado na eternidade, qual imagem teriam e não se alguns seriam salvos e outros deixados na danação eterna. Da mesma forma que é impossível aos homens naturais terem imagem diversa do homem terreno, assim, também, é impossível aos celestiais terem imagem diversa do celestial (1 Coríntios 15:48).

Enquanto a predestinação trata da imagem que os filhos de Deus terão quando virem face a face a Jesus glorificado, a ideia de muitos teólogos acerca da predestinação é que ela confere salvação.

“Amados, agora somos filhos de Deus e ainda não é manifestado o que haveremos de ser. Mas, sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele; porque, assim como é, o veremos.” (1 João 3:2).

Mas, por que somente os que creem em Cristo, serão conforme a imagem de Cristo? Porque essa gloria é dada, exclusivamente, à Igreja, o corpo de Cristo, pois tem em vista o propósito eterno que Deus estabeleceu em Si mesmo, na pessoa de Cristo.

Nenhum salvo do Antigo Testamento ou, da grande tribulação ou, do milênio, terá o privilégio de possuir um corpo glorioso, conforme o corpo de Cristo, a não ser os que fazem parte da Igreja.

Todos os salvos são nomeados de filhos de Deus, mas somente os membros do corpo de Cristo são chamados de irmãos, pois, somente os membros da Igreja serão conforme a imagem de Cristo, porque, ao conferir essa riqueza aos que creem Cristo, o Unigênito Filho de Deus é feito primogênito entre muitos irmãos.

Mas, antes de predestinar aquele que crê em Cristo a ser conforme a imagem de Cristo, aqueles que amam (obedecem) a Deus são nomeados ‘eleitos de Deus’, ‘santos’ e ‘amados’, segundo o propósito de fazer Cristo primogênito entre muitos irmãos.

“Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de entranhas de misericórdia, de benignidade, humildade, mansidão, longanimidade” (Colossenses 3:12).

A condição de ‘eleitos de Deus’ não é própria aos descendentes de Adão, pois, todos se extraviaram e, juntamente, se tornaram imundos, quando da ofensa. O nome ‘eleitos’ é exclusiva para os gerados de novo, segundo a semente incorruptível do evangelho ou, seja, ele é pertinente aos que amam a Deus.

 

O Propósito de Deus

Aqueles que ‘amam’ a Deus são ‘aqueles que obedeceram ao seu mandamento’ ou, seja, aqueles que creem em Cristo. Por crerem em Cristo, é que são ‘chamados’ segundo o propósito de Deus que, nesse verso, se refere ao beneplácito que Deus propusera em Si mesmo, de fazer o Cristo preeminente em todas as coisas, diferentemente, do chamado à salvação, que se dá por intermédio da pregação do evangelho.

Só é chamado segundo o propósito de Deus os que amam a Deus ou, seja, os que creem em Cristo:

“E sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito” (Romanos 8:28)

O termo grego κλητοῖς (kletos), traduzido por ‘chamados’ é um adjetivo utilizado para qualificar a condição do indivíduo em posição de honra. No verso, o termo não se refere a um convite, antes designa a honra concedida, especificamente, para aqueles que creram em Cristo (amam a Deus, obedecem a Deus).

O apóstolo enfatizou, através do termo κλητοῖς, a honra conferida aos que creem no evangelho: participantes do propósito eterno estabelecido em Cristo! É na igreja que a multiforme sabedoria de Deus se revela aos principados e potestades, pois, para Cristo ser a cabeça do corpo, se fez necessário muitos irmãos serem conduzidos à glória (Hebreus 2:10).

“(a) “convidar”, e.g. para uma casa ou uma festa (Homero, O d , 10, 231). O part. klétos, em tais contextos, significa “convidado”, “bem-vindo”, “hóspede” (Homero Od., 17, 386). Quando o convite confere uma honra especial, a palavra veio a significar “escolhido” (Homero, II, 9, 165). O substantivo klésis significa o ato de convidar (Xen. Symp 1,7; Plut., Péricles, 7, 5) e, mais frequentemente, como convocação oficial por uma autoridade reconhecida (e.g. a assembleia militar ou urbana), e, assim, significa “convocar” ou “chamar a si” (Homero, Od., 1, 90; 8,43)” Dicionário internacional de teologia do Novo Testamento –  Colin Brown, Lothar Coenen (orgs.); [tradução Gordón Chown]. — 2. ed. — São Paulo; Vida Nova, 2000, pág. 352.

O adjetivo κλητοῖς (kletos), no caso nominativo, em Romanos 8, verso 28, não aborda o ‘ato de convidar’ ou, de ‘convocar’ ou, de ‘chamar’, como expresso em Mateus 22, verso 14, o que poderia ser expresso pelo termo κλησις (klesis) ou, através do termo κλητοῖς, no caso dativo.

O apóstolo Paulo não fez referência a um processo de escolha unilateral, mas, sim, a honra concedida por Deus àqueles que o amam. E essa honra especial é ser participante do propósito de Deus, em que Cristo é elevado à posição de primogênito entre muitos irmãos. Essa honra é concedida somente aos que amam a Deus ou, seja, aos que obedecem ao seu mandamento, crendo em Cristo.

Para compreendermos o propósito de Deus estabelecido em Cristo, na eternidade, se faz necessário compreender que, todos os que obedecem ao mandamento do evangelho, terão o seu corpo mortal transformado, para serem conforme o corpo glorioso de Cristo.

“Que transformará o nosso corpo abatido, para ser conforme o seu corpo glorioso, segundo o seu eficaz poder de sujeitar, também, a si todas as coisas” (Filipenses 3:21).

Na eternidade, Deus estabeleceu que todos os que creem em Cristo terão um corpo glorioso, conforme o corpo do Cristo ressurreto para que sejam semelhantes ao Altíssimo. O corpo glorioso estará acima das leis da física e é superior em glória ao corpo dos seres angelicais. Deus estabeleceu, na eternidade, que todos os crentes em Cristo Jesus serão semelhantes a Cristo, pois, herdarão um corpo glorioso semelhante ao corpo ressurreto de Cristo.

“Amados, agora somos filhos de Deus e ainda não é manifestado o que haveremos de ser. Mas, sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele; porque, assim como é, o veremos” (1 João 3:2);

“Qual o terreno, tais são, também, os terrestres; e, qual o celestial, tais, também, os celestiais. E, assim, como trouxemos a imagem do terreno, assim, traremos, também, a imagem do celestial” (1 Coríntios 15:48-49).

Quando da redenção do corpo (Romanos 8:23), os que creram em Cristo serão revestidos de incorruptibilidade e de imortalidade (1 Coríntios 15:54), de modo que a glória de Deus será revelada nos que creram no evangelho de Cristo (Romanos 8: 18; 1 Coríntios 15:54).

Ao estabelecer a preeminência de Cristo em todas as coisas, dando a Ele a posição de cabeça da Igreja, foi conferido a Cristo, o servo do Senhor, a mais alta posição de toda criação:

“…pondo-o à sua direita nos céus. Acima de todo o principado e poder,  potestade, domínio e de todo o nome que se nomeia, não só neste século, mas, também no vindouro; E sujeitou todas as coisas a seus pés e sobre todas as coisas o constituiu como cabeça da igreja” (Efésios 1:20-22).

Somente os que amam a Deus ou, seja, aqueles que obedeceram ao mandamento de Deus, são honrados (chamados), segundo o propósito de Deus, pois, quando Deus lhes confere a semelhança de Cristo, Cristo assume a posição de primogênito entre muitos irmãos.

Sem crer em Cristo, é impossível alcançar a honra que há na santa vocação, segundo o propósito concedido, antes dos tempos dos séculos, em Cristo. Ser um ‘escolhido’ só é possível aos que amam a Deus ou, seja, aos que creem no evangelho, portanto, aos que ‘conhecem’ a Deus.

O objetivo de tornar quem crê um ‘escolhido’ é a preeminência de Cristo e, para a preeminência d’Ele, os salvos terão um corpo, conforme o corpo glorioso de Cristo, e assim Deus conclui o seu projeto de fazer o homem à Sua imagem e semelhança.

“O qual é imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação” (Colossenses 1: 15; Hebreus 1: 3).

Cristo é a expressa imagem do Deus invisível e os cristãos, quando da redenção do corpo, serão semelhantes a Cristo, de modo que, na igreja se cumpre a vontade de Deus, de fazer o homem à sua imagem e semelhança.

O homem é salvo quando obedece à fé (evangelho), o mandamento do Deus eterno, que é anunciado a todas as nações, para obediência. É por isso que, ao escrever a Timóteo, o apóstolo Paulo demonstra que o homem é salvo através do evangelho, que é o poder de Deus, para salvação de todo o que crê:

“Portanto, não te envergonhes do testemunho de nosso SENHOR, nem de mim, que sou prisioneiro seu; antes, participa das aflições do evangelho, segundo o poder de Deus, que nos salvou…” (2 Timóteo 1:8-9, Romanos 1: 16;1, I Coríntios 1:18 e 24 e I Coríntios 2:5).

Após demonstrar que o evangelho é o poder de Deus para a salvação, o apóstolo enfatiza que os crentes em Cristo foram ‘chamados’ com uma ‘santa vocação’ (καλέσαντος κλήσει ἁγίᾳ):

“… e chamou com uma santa vocação, não segundo as nossas obras, mas, segundo o seu próprio propósito e graça, que nos foi dada em Cristo Jesus, antes dos tempos dos séculos” (2 Timóteo 1:9).

Todo e qualquer homem é salvo segundo o poder de Deus, contido no evangelho (Efésios 1:13), e é através do convite (κλητοί) expresso no evangelho, que os que creem são salvos e, concomitantemente, lhes é concedida a honra (κλητοῖς) de serem conforme a imagem de Cristo, portanto, escolhidos (ἐκλεκτοί).

“Porque muitos são chamados, mas poucos escolhidos” (Mt 22:14).

O verbo grego traduzido por ‘chamou’, utilizado pelo apóstolo Paulo, em 2 Timóteo 1, verso 9, é καλέσαντος (kaleó), no sentido de conceder um nome, um título, que é próprio aos salvos em Cristo, segundo o evangelho: eleitos, escolhidos (καλέσαντος), diferente da ideia de ‘chamar’, ‘convidar’.

“καλεω (kaleo) semelhante a raiz de 2753; TDNT – 3:487,394; v 1) chamar 1a) chamar em alta voz, proferir em alta voz 1b) convidar 2) chamar, i.e., chamar pelo nome 2a) dar nome a 2a1) receber o nome de 2a2) dar um nome a alguém, chamar seu nome 2b) ser chamado, i.e., ostentar um nome ou, título (entre homens) 2c) saudar alguém pelo nome”. Dicionário Bíblico Strong.

É através do mandamento de Deus, a santa vocação (κλήσει ἁγίᾳ), que é concedido aos cristãos serem nomeados eleitos de Deus. O evangelho constitui-se a fé (πίστιν) dos eleitos de Deus.

“Paulo, servo de Deus e apóstolo de Jesus Cristo, segundo a fé dos eleitos de Deus e o conhecimento da verdade, que é segundo a piedade” (Tito 1:1);

“Mas, antes que a fé viesse, estávamos guardados debaixo da lei e encerrados para aquela fé que se havia de manifestar” (Gálatas 3:23).

Soberanamente, Deus, na eternidade, estabeleceu Cristo preeminente em tudo, por isso, além de ser a cabeça da igreja, o principado foi posto sobre os seus ombros.  Como o Verbo eterno, para entrar no mundo, despiu-se da sua glória, ao retornar à sua glória, antes que o mundo existisse, revestiu-se e cingiu-se de poder, firmando, para sempre, o Seu trono.

“O teu trono está firme desde então; tu és desde a eternidade” (Salmos 93:2);

“Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu e o principado está sobre os seus ombros e se chamará o seu nome: Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz” (Isaías 9: 6);

“Também o farei meu primogênito, mais elevado do que os reis da terra” (Salmos 89:27);

“Grande é a sua glória, pela tua salvação; glória e majestade puseste sobre ele” (Salmos 21:5);

“E, agora, glorifica-me tu, ó Pai, junto de ti mesmo, com aquela glória que tinha contigo, antes que o mundo existisse” (João 17:5).

Quando Cristo ressurgiu, dentre os mortos, ascendeu aos céus e se assentou à destra do Pai, todas as coisas foram sujeitas aos seus pés: “Acima de todo o principado e poder, potestade, domínio e de todo o nome que se nomeia, não só neste século, mas, também, no vindouro, ressuscitando-o dentre os mortos e pondo-o à sua direita nos céus” (Efésios 1:21).

Além de todas as coisas estarem sujeitas aos seus pés, acima de todas as coisas, Cristo foi estabelecido como a cabeça da Igreja: “E sujeitou todas as coisas a seus pés, e sobre todas as coisas o constituiu como cabeça da igreja” (Efésios 1:22). Semelhantemente, como há muitos membros no seu corpo, que é a igreja, que alcançaram posição elevada, acima dos principados e potestades, como princípio e primogênito dentre os mortos, Cristo alcançou preeminência em tudo: “E ele é a cabeça do corpo, da igreja; é o princípio e o primogênito dentre os mortos, para que, em tudo, tenha a preeminência” (Colossenses 1:18).

Nos céus e na terra, todas as coisas foram congregadas em Cristo, de modo que, nos céus, Ele é o primogênito entre muitos irmãos e na terra, o príncipe dos reis da terra: “E da parte de Jesus Cristo, que é a fiel testemunha, o primogênito dentre os mortos e o príncipe dos reis da terra. Aquele que nos amou e, em seu sangue, nos lavou dos nossos pecados” (Apocalipse 1: 5); “Porque os que dantes conheceu, também, os predestinou, para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos” (Romanos 8:29).

Conhecendo a nova posição que Deus deu a Cristo e que, durante o tempo da plenitude dos gentios, Ele permanecerá assentado à destra da Majestade nas alturas, o escritor aos Hebreus, ao fazer referência a Cristo, no verso 15, do capítulo 1, da carta aos Hebreus, nomeia o Cristo ‘primogênito’, apesar de estar abordando a entrada de Cristo no mundo, quando, ainda, na condição de Unigênito.

“E outra vez, quando introduz no mundo o primogênito, diz: E todos os anjos de Deus o adorem” (Hebreus 1:6).

A eleição é fato inegável nas Escrituras, no entanto, a eleição não trata da salvação de alguns e da rejeição de outros. A eleição versa sobre a preeminência de Cristo em tudo, beneplácito proposto por Deus em Si mesmo, pois, foi firmado na eternidade em Cristo.

“Descobrindo-nos o mistério da sua vontade, segundo o seu beneplácito, que propusera em si mesmo…” (Efésios 1:9);

“Segundo o eterno propósito que fez em Cristo Jesus nosso Senhor” (Efésios 3:11).

Um dos equívocos quanto à doutrina da eleição é pensar que ela é a resposta de Deus à queda da humanidade. Essa linha de raciocínio dá conta que Deus se precaveu com relação à queda da humanidade, escolhendo alguns indivíduos para serem salvos.

Talvez essa ‘medida’ fosse necessária, se o propósito eterno de Deus tivesse por base o homem, entretanto, analisando as Escrituras, verifica-se que o propósito de Deus tem por base Ele mesmo e não suas criaturas.

“Segundo o eterno propósito que fez em Cristo Jesus nosso Senhor” (Efésios 3:11).

Deus não ficou dependente das suas criaturas, para levar a efeito o seu propósito, pois, o propósito foi estabelecido n’Ele, sendo certo que, uma das pessoas da divindade despiu-se da sua glória e se fez carne. É em Cristo, o último Adão, o homem celestial, que Deus estabeleceu o seu propósito.

“Descobrindo-nos o mistério da sua vontade, segundo o seu beneplácito, que propusera em si mesmo…” (Efésios 1:9).

Cristo Jesus, o Emanuel, não cometeu pecado, donde se verifica que a eleição não visa salvar. A resposta de Deus à queda da humanidade foi providenciar salvação poderosa, na casa de Davi, a todos os povos: “O qual não cometeu pecado, nem na sua boca se achou engano” (1 Pedro 2:22).

Haveria entrave ao propósito de Deus, que é fazer o Cristo preeminente, se o homem natural fosse a base do propósito, entretanto, o propósito de Deus é Cristo preeminente em todas as coisas e Cristo é o eleito de Deus.

“E ele é a cabeça do corpo, da igreja; é o princípio e o primogênito dentre os mortos, para que em tudo tenha a preeminência” (Colossenses 1:18);

“Por isso, também, Deus o exaltou, soberanamente e lhe deu um nome que é sobre todo o nome” (Filipenses 2:9).

Tornou-se consenso, no meio da cristandade, que a eleição se refere à escolha feita por Deus, de certas pessoas que serão salvas e, consequentemente, as não escolhidas permanecem perdidas. Por desconhecerem a essência do propósito eterno de Deus, que é Cristo como cabeça da igreja, confundem a doutrina que trata do Propósito Eterno de Deus com a doutrina da salvação.

A Bíblia apresenta dois chamados:

  • o chamado à salvação, por meio do evangelho, que é universal e;
  • o chamado ao propósito estabelecido em Cristo, que é específico aos eleitos, os santos e irrepreensíveis, que atenderam ao chamado do evangelho.

Os glorificados

“E aos que predestinou a estes também chamou; e aos que chamou a estes também justificou; e aos que justificou a estes também glorificou.” (Romanos 8:30)

Dessa forma, considerando que os que amam a Deus são os que O obedecem, o que se dá quando se crê que Jesus é o Cristo (Salmos 25:10).

Considerando que os que amam a Deus são os chamados ao propósito eterno, que Deus estabeleceu em Cristo.

Considerado que conhecer a Deus ou, antes, ser conhecido d’Ele é se tornar um com Cristo, que se dá por intermédio do evangelho.

Considerando que os que se fizeram um com Cristo não terão outro destino, a não ser o de serem conforme a imagem de Cristo, pois esse é o propósito eterno de Deus em Cristo: que Ele seja primogênito entre muitos irmãos.

A condição de predestinado a ser, conforme a imagem de Cristo, só é dada aos que são chamados com santa vocação, o que é próprio aos que foram justificados em Cristo Jesus, por intermédio do evangelho.

E como foram justificados os chamados ao proposito eterno? Através da glorificação com Cristo, ressurgindo dentre os mortos, o novo homem foi declarado justo ou, seja, justificado.

Quando o homem crê que Jesus é o Cristo, ressurge uma nova criatura com Cristo (Colossenses 3:1), criada, segundo Deus, em verdadeira justiça e santidade (Efésios 4:24) e, por isso, é declarado justo.

A glorificação é o primeiro evento que ocorre com aquele que crê em Cristo, pois, ao crer o velho homem, é crucificado, morto e sepultado com Cristo, tendo em vista que, ao padecer com Cristo, também, com ele será glorificado (Romanos 8:17) ou, seja, ressurgirá com Cristo uma nova criatura.

De modo que, a glorificação de Romanos 8, verso 30, é o primeiro evento na vida do Cristão e depois se dá a justificação, o chamado e a predestinação.

Deus deu um nome (ἐκάλεσεν) aos que se tornaram um com Ele (conheceram) em função da honra de fazerem parte do Seu propósito, foi dado à geração eleita ser conforme a imagem de Cristo (predestinados). Os que são um com Deus, Deus justificou. A justificação é quesito essencial a quem é nomeado por Deus (chamado com santa vocação), pois, só o ímpio que cumpre o mandamento de Deus é declarado justo.

Quando o ímpio obedece ao evangelho de Cristo, é crucificado com Cristo, morre e é sepultado com Cristo. Na morte com Cristo, o ímpio é justificado do pecado, pois o corpo do pecado é desfeito: “De sorte que fomos sepultados com ele pelo batismo na morte; para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos, pela glória do Pai, assim, andemos nós, também, em novidade de vida” (Rm 6:4).

Ao ser sepultado com Cristo, o mesmo poder que operou poderosamente sobre Cristo, também, opera naquele que crê no poder de Deus (evangelho), ressuscitando-o dentre os mortos (Efésios 1:19-20). Esse novo homem passa a viver em novidade de vida, pois é uma nova criatura, criada segundo Deus, em verdadeira justiça e santidade (Efésios 4:24).

Esse novo homem, criado segundo Deus, através do lavar regenerador do evangelho, é declarado justo por Deus e, após justificado, é nomeado por Deus santo, pela santa vocação, pois, será conforme a imagem de Cristo, quando da redenção do corpo.

Mas, aquele que Deus justificou, também, é glorificado ou, seja, o crente é glorificado na ressurreição com Cristo, pois, se assenta nas regiões celestiais em Cristo Jesus. A glorificação, em Romanos 8, verso 30, que promove a justificação, não tem relação com a glorificação futura, quando haverá a redenção do corpo, antes ,diz da ressurreição com Cristo, como se lê:

“E, se nós somos filhos, somos logo herdeiros, também, herdeiros de Deus e co-herdeiros de Cristo: se é certo que, com ele padecemos, para que, também, com ele sejamos glorificados” (Romanos 8:17).

Só são filhos e herdeiros de Deus, aqueles que morreram com Cristo (padeceram), pois é certo que, os que padeceram, também, ressurgiram com Ele ou, seja, foram glorificados (Colossenses 3:1).

 

Eleição

“Como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dele em amor” (Efésios 1: 4).

Na eternidade, antes da fundação do mundo, para levar a efeito o seu eterno propósito, Deus elegeu o Cristo. “Descobrindo-nos o mistério da sua vontade, segundo o seu beneplácito, que propusera em si mesmo” (Efésios 1:9).

Cristo é o eleito de Deus, aquele que O apraz, de modo que a palavra de Deus foi posta sobre Ele.

“Eis aqui o meu servo, a quem sustenho, o meu eleito, em quem se apraz a minha alma; pus o meu espírito sobre ele; ele trará justiça aos gentios (…) Eu, o Senhor, te chamei em justiça e te tomarei pela mão, te guardarei, te darei por aliança do povo e para luz dos gentios” (Isaías 42:1 e 6).

Quando desobedeceu a Deus no Éden, toda a geração de Adão sofreu o dano, pois a morte passou a todos os seus descendentes, de modo que todos foram feitos pecadores (Romanos 5:12). Cristo é o eleito de Deus, segundo o beneplácito que foi proposto em Si mesmo, para a posição de último Adão, a cabeça de uma nova geração de homens espirituais, por quem toda a sua geração é eleita, segundo o beneplácito de Deus.

A partir do momento em que o homem crê em Cristo, é de novo gerado de uma semente incorruptível, poder de Deus, que faz dos homens que creem, filhos de Deus: “Sendo de novo gerados, não de semente corruptível, mas da incorruptível, pela palavra de Deus, viva e que permanece para sempre” (1 Pedro 1:23); “Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos que creem no seu nome” (João 1:12).

O Salmo 112 é messiânico e apresenta uma promessa à semente do filho do homem: uma geração de retos e bem-aventurados: “A sua semente será poderosa na terra; a geração dos retos será abençoada” (Salmos 112:2).

O Salmo 89 evidencia que a semente do Messias durará para sempre, bem como o seu principado “A sua semente durará para sempre e o seu trono, como o sol diante de mim” (Salmos 89:36).

Ora, a palavra de Deus é semente incorruptível, que permanece para sempre, e todo aquele que faz a vontade de Deus, também, permanecerá para sempre, pois é gerado da semente de Deus. “Sendo de novo gerados, não de semente corruptível, mas da incorruptível, pela palavra de Deus, viva, e que permanece para sempre” (1 Pedro 1:23); “E o mundo passa e a sua concupiscência; mas aquele que faz a vontade de Deus permanece para sempre” (1 João 2: 17).

A promessa de fazer o Cristo ressurreto, o primogênito e o mais elevado dos reis da terra, se estende à sua semente, pois, só através da semente conservada por Deus, a condição de primogenitura de Cristo é estabelecida para sempre. “A tua semente estabelecerei para sempre e edificarei o teu trono, de geração em geração” (Salmos 89:4); “Também o farei meu primogênito, mais elevado do que os reis da terra. A minha benignidade lhe conservarei eu, para sempre, e a minha aliança lhe será firme, E conservarei para sempre a sua semente e o seu trono como os dias do céu” (Salmos 89:27-29).

É neste sentido que o apóstolo Pedro faz referência aos cristãos, como geração eleita:

“Mas vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz” (1 Pedro 2:9).

Cristo é a pedra de esquina, eleita e preciosa, e quem nele crer será salvo (não será confundido). “Por isso, também, na Escritura se contém: Eis que ponho em Sião a pedra principal da esquina, eleita e preciosa; e quem nela crer não será confundido” (1 Pedro 2:6). Cristo é a pedra eleita, preciosa e a principal da esquina, mas, cada cristão, é pedra viva, portanto, eleitos.

O termo grego εκλεκτος [1], traduzido por ‘eleita’, utilizado pelo apóstolo Pedro, não trata de um sistema de seleção de pessoas para serem salvas, antes, aponta para uma geração que é a melhor, excelente, sendo que o processo seletivo, na verdade, se deu em Cristo.

Quando o apóstolo Paulo enfatiza que Deus elegeu os cristãos, em Cristo, antes da fundação do mundo, não fez referência a uma escolha que tinha em vista indivíduos incrédulos. Na verdade, o eleito é Cristo e todos os que passam a estar em Cristo, portanto, novas criaturas, são honrados (eleitos) em Cristo, com a condição de santos, irrepreensíveis e inculpáveis.

É em Cristo que o cristão foi eleito, pois, ao escolher a linhagem de Cristo para ser santa e irrepreensível, os que são de novo gerados, são os eleitos do Senhor ao seu santo propósito: a preeminência de Cristo.

A descendência e o descendente

Como todos os homens, em decorrência da desobediência de Adão, tornaram-se impróprios para compor o propósito que Deus estabeleceu em Cristo, tornou-se necessária uma nova geração de homens, através de uma nova semente.

A geração de Adão alienou-se de Deus e ficou imunda e todos os seus descendentes, por causa da semente corruptível de Adão, que são nomeados de filhos da ira e da desobediência (Efésios 2:2-3). Ora, todos os nascidos da vontade da carne, da vontade do varão e do sangue não são filhos de Deus (João 1:12-13).

Mas, o Salmista profetizou que uma semente haveria de servir a Deus. “Uma semente o servirá; será declarada ao Senhor a cada geração” (Salmos 22:30). No mesmo Salmo é previsto que o Cristo haveria de ser lançado na madre por Deus, e que Deus haveria de ser o seu Deus, desde o ventre de sua mãe (Salmos 22:10), condição diferente de todos os homens, pois, todos se desviam de Deus, desde o ventre e andam errados. desde que nascem (Salmos 58:3).

Sobre a semente de Cristo repousam várias promessas: “A sua semente será poderosa na terra; a geração dos retos será abençoada” (Salmos 112:2); “A sua semente durará para sempre e o seu trono, como o sol diante de mim” (Salmos 89:36); “A tua semente estabelecerei para sempre, e edificarei o teu trono, de geração em geração. (Selá.)” (Salmos 89: 4); “E conservarei para sempre a sua semente e o seu trono, como os dias do céu” (Salmos 89:29).

Neste sentido, Cristo é apresentado como o último Adão, a palavra que dá vida e o Adão do Éden, como alma vivente (1 Coríntios 15:45). Enquanto a semente de Adão produz os filhos da ira e da desobediência, a semente de Cristo, que é a palavra incorruptível, produz filhos para Deus, santos e irrepreensíveis (1 Pedro 1:3 e 23).

Para levar a efeito o seu propósito, Deus trabalha com os homens, pois o mundo futuro não estará sujeito aos anjos. “Então falaste em visão ao teu santo e disseste: Pus o socorro sobre um que é poderoso; exaltei a um eleito do povo” (Salmos 89:19; Hebreus 2:5).

“E produzirei descendência a Jacó e a Judá um herdeiro, que possua os meus montes; os meus eleitos herdarão a terra e os meus servos habitarão ali” (Isaías 65:9).

Ao estabelecer que o Seu Primogênito haverá de ser o mais elevado dos reis da terra, Deus chamou da semente da mulher o seu amigo (servo) Abraão, tirando-o da cidade de Ur dos Caldeus. “Tu és o SENHOR, o Deus, que elegeste a Abrão e o tiraste de Ur dos caldeus, e lhe puseste por nome Abraão” (Neemias 9: 7); “Também o farei meu primogênito, mais elevado do que os reis da terra” (Salmos 89:27; Gênesis 3:15).

Conforme o Salmo Segundo, Deus estabeleceu, através de um decreto, o Seu Filho, o Cristo, Rei sobre o seu santo monte Sião, de modo que Ele regerá todas as nações da terra com vara de ferro (Salmos 2:6-9), evento que se dará quando Cristo se assentar e reinar no trono da sua glória. “E Jesus disse-lhes: Em verdade, vos digo que vós, que me seguistes, quando, na regeneração, o Filho do homem se assentar no trono da sua glória, também, vos assentareis sobre doze tronos, para julgar as doze tribos de Israel” (Mateus 19:28).

Mas, para que o Cristo se assentasse sobre o trono de sua glória, dentre muitos gentios, Deus chamou (vocação) Abraão e fez a seguinte promessa: farei de ti uma grande nação, em ti todas as famílias da terra serão benditas e darei a terra dos cananeus à sua descendência (Gênesis 12:2-3 e 7).

Foi através do chamado de Abraão que o povo de Israel tornou-se nação de Deus, no entanto, o eleito para o propósito de Deus seria o Cristo, o descendente de Abraão:

“Porém tu, ó Israel, servo meu, tu Jacó, a quem elegi descendência de Abraão, meu amigo” (Isaías 41:8).

O propósito de Deus é estabelecer o descendente de Abraão como o mais elevado dos reis da terra, daí a vocação de Abraão, que foi chamado da cidade de Ur dos Caldeus, para se cumprir, na descendência de Abraão, a promessa de fazer dele uma grande nação.

Abraão foi salvo, quando ouviu a palavra de Deus e creu (Gênesis 15:6), não quando foi chamado de Ur dos Caldeus (Gênesis 12:1). Da mesma forma, os filhos de Abraão só seriam salvos se ouvissem e cressem na palavra de Deus. Jamais seriam salvos, por serem descendência de Abraão ou, porque foram resgatados do Egito ou, porque entraram na terra prometida.

Deus deixou claro que a descendência de Abraão não seriam seus filhos (Deuteronômio 32:5-6) e que o povo de Israel não seria justo (Deuteronômio 9:6), apesar de ser a nação de Deus. E por que os hebreus eram a nação de Deus? Por causa do juramento que Deus fez a Abraão, Isaque e Jacó (Deuteronômio 7:8).

“Não é por causa da tua justiça, nem pela retidão do teu coração, que entras a possuir a sua terra, mas, pela impiedade destas nações, o SENHOR teu Deus as lança fora, de diante de ti e para confirmar a palavra que o SENHOR jurou a teus pais, Abraão, Isaque e Jacó” (Deuteronômio 9:5)

Deus elegeu o Descendente de Abraão para vir ao mundo, o Cristo, e dentre as doze tribos dos filhos de Israel, Deus elegeu a tribo de Judá. “Antes elegeu a tribo de Judá; o monte Sião, que ele amava” (Salmos 78:68).

O fato de Deus ter elegido a tribo de Judá conferiu aos filhos de Judá salvação? Não! Da mesma forma que a escolha de Abraão, dentre os gentios. não conferiu salvação aos filhos de Israel.

Passado muito tempo, Deus escolheu, dentre os filhos de Judá, a descendência de Davi, fez a promessa de que estabeleceria o reino de um da sua descendência e confirmaria o seu trono, para sempre:

“Quando teus dias forem completos e vieres a dormir com teus pais, então, farei levantar, depois de ti, um dentre a tua descendência, o qual sairá das tuas entranhas, e estabelecerei o seu reino. Este edificará uma casa ao meu nome e confirmarei o trono do seu reino, para sempre. Eu lhe serei por pai e ele me será por filho; e, se vier a transgredir, castigá-lo-ei com vara de homens e com açoites de filhos de homens” (2 Samuel 7:12-14).

Muito tempo depois, Deus escolheu, da descendência de Davi, a sua serva Maria, que, através da ação sobrenatural do Espírito de Deus, ela se achou grávida e o Verbo eterno encarnou-se, na condição de Filho Unigênito de Deus: “E o Verbo se fez carne, habitou entre nós e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade” (João 1:14 e 18); “Nisto se manifesta o amor de Deus para conosco: que Deus enviou seu Filho unigênito ao mundo, para que por ele vivamos” (1 João 4:9).

A descendência de Abraão foi escolhida para que Deus trouxesse o seu Filho ao mundo, o Descendente. O Descendente de Abraão e de Davi foi incumbido de construir um templo a Deus, com a promessa de que o seu trono seria firmado para sempre.

Cristo é a pedra eleita e preciosa, sobre o qual é edificada casa espiritual a Deus (Efésios 2:19-22).

 

Morte e vida

Por causa da desobediência de Adão, todos os seus descendentes passaram a condição de separados de Deus. A Bíblia acusa todos os descendentes de Adão de imundos e repreensíveis diante de Deus, devido à ofensa no Éden (Salmos 14:3; Salmos 53:3).

A condenação estabelecida pela lei que diz: ‘certamente morrerás’ (Gênesis 2:17), alcançou todos os homens, por isso é dito que, por um homem entrou o pecado no mundo e, pelo pecado, a morte (Romanos 5:12). A condenação decorrente da ofensa que passou a todos os descendentes de Adão (morte) é o motivo de todos os homens serem pecadores.

Além da punição estabelecida ‘certamente morrerás’ ter alcançado todos os homens, ela se tornou a força do pecado e a morte, o que prende os homens ao pecado: “Ora, o aguilhão da morte é o pecado e a força do pecado é a lei” (1 Co 15:56).

Enquanto o primeiro mandamento dado no Éden era para preservar a vida e a comunhão que o homem possuía com o Criador, ao enviar o seu Filho Unigênito ao mundo, na posição de último Adão, Deus deu um novo mandamento, que concede vida aos homens mortos em delitos e pecados: “E sei que o seu mandamento é a vida eterna. Portanto, o que eu falo, o falo como o Pai me tem dito” (João 12:50); “E o seu mandamento é este: que creiamos no nome de seu Filho Jesus Cristo e nos amemos uns aos outros, segundo o seu mandamento” (1 João 3:23).

Deus amou todos os homens, sem distinção alguma, que enviou o seu Filho Unigênito, para que todo aquele que n’Ele crê, não pereça, mas tenha a vida eterna: “Porque este é o amor de Deus: que guardemos os seus mandamentos; e os seus mandamentos não são pesados” (1 João 5:3); “E o amor é este: que andemos, segundo os seus mandamentos. Este é o mandamento, como já desde o princípio ouvistes, que andeis nele” (2 João 1:6); “…também te dei para luz dos gentios, para seres a minha salvação, até à extremidade da terra” (Isaías 49:6; João 3:16).

Deus estabeleceu em Cristo um mandamento que dá vida: crer em Cristo, como Filho de Deus: “Sê tu a minha habitação forte, a qual possa recorrer continuamente. Deste um mandamento que me salva, pois tu és a minha rocha e a minha fortaleza” (Salmos 71:3), por isso é dito que a lei do Espírito de vida livra o homem da lei do pecado e da morte: “Porque a lei do Espírito de vida, em Cristo Jesus, me livrou da lei do pecado e da morte” (Romanos 8:2).

Através da ofensa ao mandamento dado no Éden, o pecado entrou no mundo e, pelo pecado, a morte (Romanos 5:12). Agora, através da obediência de Cristo Jesus, que, pelo seu corpo, consagrou um novo e vivo caminho (Hebreus 10:20), dos muitos homens que foram feito pecadores, muitos, pelo evangelho, são feitos justos: “Porque, como pela desobediência de um só homem, muitos foram feitos pecadores, assim, pela obediência de um, muitos serão feitos justos” (Romanos 5:19).

A igreja de Cristo é uma assembleia universal, constituída de pessoas que pertencem a Deus (primogênitos), os justos aperfeiçoados (Hebreus 12:23). Como, na Antiga Aliança, os primogênitos pertenciam a Deus, o escritor aos Hebreus utiliza o termo ‘primogênitos’, para demonstrar que os cristãos pertencem a Deus e não que todos ocupam a posição de primeiro, ressurretos dentre os mortos, como o é Cristo (Apocalipse 1:5).

“Santifica-me todo o primogênito, o que abrir toda a madre entre os filhos de Israel, de homens e de animais; porque meu é.” (Êxodo 13:2).

Devemos ser muito cuidadosos, ao lermos algumas passagens bíblicas, pois, muitas estão impregnadas de imprecisões, devido ao posicionamento teológico que os tradutores abraçaram.

Quando lemos:

“Mas, devemos sempre dar graças a Deus por vós, irmãos amados do SENHOR, por vos ter Deus elegido desde o princípio para a salvação, em santificação do Espírito e fé da verdade;” (2 Tessalonicenses 2:13) onde, a ideia em evidência é a doutrina calvinista da eleição incondicional para salvação.

Mas, ao analisarmos o texto grego, temos a seguinte leitura: o apóstolo Paulo enfatiza o dever de sempre agradecer a Deus pelos cristãos de Tessalônica, pois eram irmãos em Cristo e ‘amados do Senhor’!

“Ἡμεῖς δὲ ὀφείλομεν εὐχαριστεῖν τῷ θεῷ πάντοτε περὶ ὑμῶν ἀδελφοὶ ἠγαπημένοι ὑπὸ κυρίου…” (2 Tessalonicenses 2:13), Stephanus Textus Receptus (1550, with accents).

Agora, a surpresa! O motivo pelo qual o apóstolo deveria ser grato: ‘ὅτι[2] εἵλετο[3] ὑμᾶς[4]’ ὁ θεὸς, ou, seja, ‘porque Deus vos elegeu’. Mas, para que os cristãos foram eleitos? Para serem salvos? Não! Os cristãos foram eleitos como primícias ou, seja, como sua propriedade peculiar. O termo é melhor traduzido como ‘tomou para si’, do que a ideia de ‘escolher’ “Segundo a sua vontade, ele nos gerou pela palavra da verdade, para que fôssemos como primícias das suas criaturas.” (Tiago 1:18); “Saudai, também, a igreja que está em sua casa. Saudai a Epêneto, meu amado, que é a primícia da Acaia, em Cristo.” (Romanos 16:5); “Porque fostes comprados por bom preço; glorificai, pois, a Deus no vosso corpo e no vosso espírito, os quais pertencem a Deus.” (1 Coríntios 6:20).

“… ὅτι εἵλετο ὑμᾶς ὁ θεὸς ἀπ’ αρχῆς[5] εἰς σωτηρίαν ἐν ἁγιασμῷ πνεύματος καὶ πίστει ἀληθείας” (2 Tessalonicenses 2: 13), Stephanus Textus Receptus (1550, with accents).

Primeiro, o apóstolo apresenta o propósito de Deus: tomar para si um povo como primícias e, em seguida, apresenta o modo que tal propósito se deu: para salvação, em santificação do espírito ou, seja, uma fé verdadeira. Ora, a santificação se dá pela palavra ou, seja, pelo espírito.

“O espírito é o que vivifica, a carne para nada aproveita; as palavras que eu vos disse são espírito e vida.” (João 6:63).

Há uma grande diferença entre ‘por vos ter Deus elegido desde o princípio para a salvação’ e ‘porque Deus tomou para si a vós como primícias’. Certo é que, para alcançar a glória de nosso SENHOR Jesus Cristo, há um só modo: o chamado que há no evangelho. Sem o convite que há, na loucura da pregação, é impossível ao homem alcançar a glória de Cristo e, os que creem, são eleitos para serem santos e irrepreensíveis, predestinados a serem conformes à imagem de Cristo.

Correção ortográfica: Pr. Carlos Gasparotto

[1] “1588 εκλεκτος eklektos de 1586; TDNT – 4:181,505; adj 1) selecionado, escolhido 1a) escolhido por Deus, 1a1) para obter salvação em Cristo 1a1a) cristãos são chamados de “escolhidos ou eleitos” de Deus 1a2) o Messias é chamado “eleito”, designado por Deus para o mais exaltado ofício concebível 1a3) escolha, seleção, i.e. o melhor do seu tipo ou classe, excelência preeminente: aplicado a certos indivíduos cristãos” Dicionário Bíblico Strong.

[2] “3754 οτι hoti neutro de 3748 como conjunção; demonst. aquele (algumas vezes redundante); conj 1) que, porque, desde que” Dicionário Bíblico Strong.

[3] “138 αιρεομαι haireomai provavelmente semelhante a 142; TDNT – 1:180,27; v 1) tomar para si, preferir, escolher 2) escolher pelo voto, eleger para governar um cargo público” Dicionário Bíblico Strong.

[4] “4771 συ su pronome pessoal da segunda pessoa do singular; pron 1) tu” Dicionário Bíblico Strong.

[5] “746 αρχη arche de 756; TDNT – 1:479,81; n f 1) começo, origem 2) a pessoa ou coisa que começa, a primeira pessoa ou coisa numa série, o líder 3) aquilo pelo qual algo começa a ser, a origem, a causa ativa 4) a extremidade de uma coisa 4a) das extremidades de um navio 5) o primeiro lugar, principado, reinado, magistrado 5a) de anjos e demônios” Dicionário Bíblico Strong.

Claudio Crispim

É articulista do Portal Estudo Bíblico (https://estudobiblico.org), com mais de 360 artigos publicados e distribuídos gratuitamente na web. Nasceu em Mato Grosso do Sul, Nova Andradina, Brasil, em 1973. Aos 2 anos de idade sua família mudou-se para São Paulo, onde vive até hoje. O pai, ‘in memória’, exerceu o oficio de motorista coletivo e, a mãe, é comerciante, sendo ambos evangélicos. Cursou o Bacharelado em Ciências Policiais de Segurança e Ordem Pública na Academia de Policia Militar do Barro Branco, se formando em 2003, e, atualmente, exerce é Capitão da Policia Militar do Estado de São Paulo. Casado com a Sra. Jussara, e pai de dois filhos: Larissa e Vinícius.

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