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O termo ‘louco’ nas Escrituras é utilizado para fazer referência ao povo de Israel que não acatavam o ‘conhecimento de Deus’. Quando Jesus nomeou os escribas e fariseus de ‘loucos’, assim o fez porque seus interlocutores não sabiam o caminho e o juízo de Deus, a quem diziam que serviam “Loucos! Quem fez o exterior não fez também o interior?” ( Lc 11:40 ); “E ele lhes disse: Ó néscios, e tardos de coração para crer tudo o que os profetas disseram!” ( Lc 24:25 ).


 

“O temor do SENHOR é o princípio do conhecimento; os loucos desprezam a sabedoria e a instrução” ( Pv 1:7 )

Os seis primeiros versículos do livro de Provérbios deixam claro qual é o objetivo do livro: conceder aos seus leitores o conhecimento necessário para que se possa entender os adágios, as parábolas, os enigmas e as proposições que são empregadas nos livros da Bíblia.

O verso sete do capítulo um contém a primeira proposição do pregador, que demanda uma análise detalhada.

O que significa ‘o temor do Senhor’? Deus quer que os homens tenham medo d’Ele? Quem são os loucos?

Para interpretar este provérbio, se faz necessário analisar os versos seguintes:

“Para fazeres o teu ouvido atento à sabedoria (…) se como a prata a buscares e como a tesouros escondidos a procurares, então entenderás o temor do SENHOR, e acharás o conhecimento de Deus” ( Pv 2:2 -5).

Com base no verso 5 do capítulo 2, verifica-se que o ‘temor’ não é um sentimento de inquietação, pavor, receio, antes refere-se a um conhecimento, um saber revelado por Deus que demanda compreensão (ouvido atento) por parte do homem.

Observe o seguinte verso: “E disse Moisés ao povo: Não temais, Deus veio para vos provar, e para que o seu temor esteja diante de vós, afim de que não pequeis” ( Ex 20:20 ). Não ter medo de Deus é uma ordem: não temais! Essa ordem deixa claro que ‘o temor do Senhor’ não é ter medo (receio), visto que Ele ordena a não ter medo d’Ele.

Qual o temor que deveria estar diante do povo de Israel? Qual temor é o princípio da sabedoria? Ora, o ‘temor’ é um modo enigmático de se fazer referência à palavra de Deus, pois esta é a ideia que se depreende dos versos seguintes:

  • “No temor do SENHOR há firme confiança e ele será um refúgio para seus filhos” ( Pv 14:26 );
  • “Vinde, meninos, ouvi-me; eu vos ensinarei o temor do SENHOR” ( Sl 34:11 );
  • “… pelo temor do SENHOR os homens se desviam do pecado” ( Pv 16:6 ).

Estabelecer tais relações e comparações é essencial para que se possa compreender o provérbio. Comparando os dois versos a seguir, é fácil distinguir o significado dos termos e a relação entre eles:

“Escondi a tua palavra no meu coração, para eu não pecar contra ti” ( Sl 119:11 );

“… e para que o seu temor esteja diante de vós, afim de que não pequeis” ( Ex 20:20 ).

O salmista deixa claro que, para não pecar contra Deus é necessário que se esteja de posse da palavra de Deus no coração e, esta mesma palavra que se estabelecerá no coração através da compreensão também é designada temor.

A introdução ao livro de Provérbios ( Pv 1:1 -6) é melhor compreendido a luz dos versos abaixo:

“Então entenderás o temor do SENHOR, e acharás o conhecimento de Deus. Porque o SENHOR dá a sabedoria; da sua boca é que vem o conhecimento e o entendimento. Ele reserva a verdadeira sabedoria para os retos. Escudo é para os que caminham na sinceridade…” ( Pv 2:5 -7).

Quem ouve a palavra de Deus (faz atento o ouvido) entenderá e achará o conhecimento, pois da boca de Deus procede o conhecimento e o entendimento.

O provérbio “O temor do SENHOR é o princípio do conhecimento…” ( Pv 1:6 ), é uma chave mestra que desvenda o mistério que havia em torno da pessoa do Filho de Deus. É uma referência implícita à pessoa de Cristo, pois em Cristo está escondido todos os tesouros da sabedoria e da ciência “Porque em tudo fostes enriquecidos nele, em toda a palavra e em todo o conhecimento” ( 1Co 1:5 ).

Se o temor do Senhor procede da boca de Deus ( Pv 2:6 ), claro está que o temor do Senhor é uma referência implícita a pessoa de Cristo, pois ele é a Palavra, o Verbo de Deus encarnado “Para que os seus corações sejam consolados, e estejam unidos em amor, e enriquecidos da plenitude da inteligência, para conhecimento do mistério de Deus e Pai, e de Cristo, em quem estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e da ciência” ( Cl 2:2 -3).

Cristo é o Temor do Senhor, pois Ele mesmo disse: “Examinais as Escrituras, porque vós cuidais ter nelas a vida eterna, e são elas que de mim testificam” ( Jo 5:39 ).

Inequivocamente podemos considerar que Cristo é o ‘Temor de Deus’ pois ele é a sabedoria de Deus “Mas vós sois dele, em Jesus Cristo, o qual para nós foi feito por Deus sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção” ( 1Co 1:30 ).

A Sabedoria referenciada em Provérbios 8, verso 22 foi revelada no Novo Testamento, como se lê em João 1, versos 2 a 3. No princípio era o Verbo, o Verbo estava com Deus e era Deus, ou seja, os livros Provérbios e João utilizam terminologias diferentes para fazer referência a Cristo: verbo=palavra=sabedoria.

Todas as coisas foram feitas por Cristo ( Jo 1:2 -3), conclui-se que a Sabedoria personificada em Provérbios refere-se a Cristo “O SENHOR me possuiu no princípio de seus caminhos, desde então, e antes de suas obras. Desde a eternidade fui ungida, desde o princípio, antes do começo da terra” ( Pv 8:22 -23).

  • “Vigiai justamente e não pequeis; porque alguns ainda não têm o conhecimento de Deus; digo-o para vergonha vossa” ( 1Co 15:34 ) – Qual é o conhecimento de Deus? Cristo ( 2Co 4:6 );
  • “Destruindo os conselhos, e toda a altivez que se levanta contra o conhecimento de Deus, e levando cativo todo o entendimento à obediência de Cristo” ( 2Co 10:5 ) – Cristo é a verdade, o conhecimento de Deus “Que quer que todos os homens se salvem, e venham ao conhecimento da verdade” ( 1Tm 2:4 );
  • “Agora, pois, seja o temor do SENHOR convosco; guardai-o, e fazei-o; porque não há no SENHOR nosso Deus iniquidade nem acepção de pessoas, nem aceitação de suborno” ( 2Cr 19:7 ) – Este verso equipara o Temor do Senhor ao Senhor Deus, ou seja, o Temor é uma pessoa – “Se o Deus de meu pai, o Deus de Abraão e o temor de Isaque não fora comigo, por certo me despedirias agora vazio. Deus atendeu à minha aflição, e ao trabalho das minhas mãos, e repreendeu-te ontem à noite” ( Gn 31:42 );
  • “E disse ao homem: Eis que o temor do Senhor é a sabedoria, e apartar-se do mal é a inteligência” ( Jó 28:28 ) – Cristo é a sabedoria de Deus, portanto, o Temor do Senhor e, somente através d’Ele o homem aparta-se do mal estabelecido em Adão;
  • “Servi ao SENHOR com temor, e alegrai-vos com tremor” ( Sl 2:11 ) – Quando se lê que se serve ao Senhor com temor, isto implica servi-lo por intermédio de Cristo, o que os judeus não compreendiam ( Rm 9:2 );
  • “O temor do SENHOR é limpo, e permanece eternamente; os juízos do SENHOR são verdadeiros e justos juntamente” ( Sl 19:9 ) – Sabemos que a palavra do Senhor permanece para sempre “Mas a palavra do SENHOR permanece para sempre. E esta é a palavra que entre vós foi evangelizada” ( 1Pe 1:25 ).

Sendo Cristo a sabedoria de Deus, certo é que Ele é o ‘temor do Senhor’, porém, resta verificar quem são os ‘loucos’ que o verso 7 faz referência “O temor do SENHOR é o princípio do conhecimento; os loucos desprezam a sabedoria e a instrução” ( Pv 1:7 ).

Quando lemos que: ‘… tudo o que a lei diz, aos que estão debaixo da lei o diz…’ ( Rm 3:19 ), certo é que a lei, os salmos, os provérbios e os profetas tem por público alvo os judeus, portanto, os que desprezavam a sabedoria e a instrução são os que viviam sob a lei “Eu, porém, disse: Deveras estes são pobres; são loucos, pois não sabem o caminho do SENHOR, nem o juízo do seu Deus” ( Jr 5:4 ).

Ou seja, o termo ‘louco’ nas Escrituras é utilizado para fazer referência ao povo de Israel que não acatavam o ‘conhecimento de Deus’. Quando Jesus nomeou os escribas e fariseus de ‘loucos’, assim o fez porque seus interlocutores não sabiam o caminho e o juízo de Deus, a quem diziam que serviam “Loucos! Quem fez o exterior não fez também o interior?” ( Lc 11:40 ); “E ele lhes disse: Ó néscios, e tardos de coração para crer tudo o que os profetas disseram!” ( Lc 24:25 ).

Esta abordagem: “loucos”, se dava em função do desvio do povo de Israel, um vocábulo comum aos profetas de Deus “Assim diz o Senhor DEUS: Ai dos profetas loucos, que seguem o seu próprio espírito e que nada viram!” ( Ez 13:3 ).

O profeta Jeremias ao falar em nome do Senhor, acrescentou “Deveras o meu povo está louco, já não me conhece; são filhos néscios, e não entendidos; são sábios para fazer mal, mas não sabem fazer o bem” ( Jr 4:22 ). Por desprezarem a palavra de Deus, o conhecimento e a instrução, o povo de Israel estava desvairado. Não conhecer o seu próprio Deus é loucura.

Ser néscio é antônimo de ser entendido. Qualquer que despreza o temor do Senhor despreza o conhecimento “O temor do SENHOR é o princípio do conhecimento; os loucos desprezam a sabedoria e a instrução” ( Pv 1:7 ).

O apóstolo Paulo ao fazer menção dos instrutores em Israel, assim os nomeou: instrutores dos néscios! De igual modo podiam ser considerados ‘mestres de crianças’, ou seja, de pessoas que não possuem uma mentalidade desenvolvida Instrutor dos néscios, mestre de crianças, que tens a forma da ciência e da verdade na lei” ( Rm 2:20 ).

A conclusão paulina: “Portanto, vede prudentemente como andais, não como néscios, mas como sábios…” ( Ef 5:15 ), é um alerta para que seus leitores não sejam faltos de entendimento, insensatos, ou seja, que compreendam a vontade de Deus. Portanto, os cristãos por terem aceitado a Cristo, a Sabedoria de Deus, são sábios, o que se contrapõe a figura dos judeus, que são néscios, pois ‘serviam’ a Deus sem entendimento ( Rm 9:2 ).

Claudio Crispim

É articulista do Portal Estudo Bíblico (https://estudobiblico.org), com mais de 360 artigos publicados e distribuídos gratuitamente na web. Nasceu em Mato Grosso do Sul, Nova Andradina, Brasil, em 1973. Aos 2 anos de idade sua família mudou-se para São Paulo, onde vive até hoje. O pai, ‘in memória’, exerceu o oficio de motorista coletivo e, a mãe, é comerciante, sendo ambos evangélicos. Cursou o Bacharelado em Ciências Policiais de Segurança e Ordem Pública na Academia de Policia Militar do Barro Branco, se formando em 2003, e, atualmente, exerce é Capitão da Policia Militar do Estado de São Paulo. Casado com a Sra. Jussara, e pai de dois filhos: Larissa e Vinícius.

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